domingo, 15 de novembro de 2009

Mentes de Saudade

Obra e fotografia de Cátia Guimarães

Num cacho de persianas
se dá o mote para uma cidade.

A cidade esconde-se, sussurrando,
como um menino que tenta,
na sua ingenuidade doce,
desprender os pássaros da sua alma
conservando-os numa gaiola.

Não é de barro, mas parece.
E as lágrimas do menino que não vemos
são de louça branca.

Acontece.
As suas lágrimas são como uvas
que deslizam e se tornam
menos de louça,
menos de branco,
caem maduras tintas
e deixam-nos embrulhados na nossa saudade.

Seremos o menino, a cidade, os pássaros ou as uvas?

Lutaremos pelas persianas, pelos gestos e pela luz que entra?

Seremos porventura toda a luz que não entra,
todo o pássaro que não voa,
toda a alma que não dança,
todo o ventre que não germina.

Seremos de certeza
Ícaro que voa,
menino que se esconde
na sua imaginação
e no brilho da sua cidade.

Sexta-feira, 13 de Novembro de 2009
Alfragide

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

A Mesa e o Tampo

Fotografia de Ester Costa
Ali a mesa estava.
À nossa espera.
Esperávamos nós por ela, sem saber.
E que pode acontecer para nós no seu tampo,
que não seja a ansiedade de nos revermos nela?

Gargalhadas, risos, pétalas de mar
e grãos de chá de flores.

O reencontro na distância e no prazer,
de nos vermos num tampo,
qual espelho?
qual vidro?

Perdemo-nos?
Perdemos-te?

Sim , até voltarmos a sentar-nos àquela mesa.
O tampo, somos nós.

Segunda-feira, 27 de Julho de 2009
São João da Talha
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